Cinema com jantar vegetariano | sessões às 22h30 |todas as terças

ciclo Outubro 2012
Errâncias e Vagabundagens - à procura do tempo perdido
(Trans)Acções de memórias, de lugares, de pessoas












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Cinco documentários, cinco ensaios de vagabundagem sobre o movimento do homem no mundo, cinco mapas de deslocamentos, de linhas de fuga, de trajectos e devires que acontecem por desejo, por necessidade.

De passagens, de paragens e de viagens se fazem os traçados do corpo do homem pelo mapa do mundo. Um e outro, mapa e mundo, são a obra e a marca de ser humano: a arte dos múltiplos caminhos.

O próprio do homem é ser uma tarefa em devir, uma viagem sempre
inacabada, sempre a fazer-se. A viagem ou errância é sempre algo que acontece “entre” mim e qualquer coisa. É algo que funciona por adição, por enchimento: qualquer coisa se soma ao meu corpo, à minha memória, ao meu passaporte.

Destas texturas em zigue-zague se faz também a cartografia deste ciclo de cinema.

José Pires


Ter 2 | "SANS SOLEIL"
(100', Chris Marker, 1983, França, leg em português)
E o vale era verde. E nele, três crianças sorriem. Estamos na Islândia.
Assim se abre SANS SOLEIL, com uma imagem de felicidade. E depois
virá a vertigem de Tóquio, entre a textura electrónica dos vídeo-jogos e a simplicidade dos gatos. E o carnaval de Bissau. E uma girafa que tomba.
SANS SOLEIL é um ensaio sobre o tempo em redor dos arquivos da memória,das imagens-lembrança. Entre o passado e o futuro, o presente fragmenta-se em momentos, monumentos__do ser humano. Uma viagem do olhar e uma homenagem a Chris Marker.


Ter 9 | "HOUSE"
(51', Amos Gitai, 1980, leg em inglês)
Amos Gitai nasceu em Haifa, Israel, em 1950. Estudava arquitectura quando a guerra do Yom Kippur rebentou. O uso da câmara Super-8 em missões de helicóptero fê-lo descobrir o cinema. Entre a ficção e o documentário, aborda temas como o exílio, a fronteira, a religião, a utopia e o lar.
Em HOUSE, Amos Gitai filma uma casa em reconstrução. A casa fica em Jerusalém. Em tempos pertenceu a um palestiniano, depois foi adquirida por judeus argelinos e agora passará para as mãos de um israelita. Os homens que nela trabalham, artesãos da pedra, são árabes.
A casa, ela própria, é uma metáfora da imbricada arquitectura com se tecem as histórias e os destinos entre israelitas e palestinianos.


Ter 16 |

"OS HABITANTES"
(10', 1970, AS ESTAÇÕES, 29', 1972)

"FIM e VIDA"
(15', 1992/1993, URSS, Artavazd Pelechian, leg em português)
“O cinema é constituído por três factores: o espaço, o tempo e o  movimento real . Estes três elementos existem na natureza, mas entre as artes, apenas o cinema os reencontrou. Graças a eles, o cinema pode trazer o movimento secreto da matéria.

Estou convencido de que o cinema é capaz de falar, ao mesmo tempo, as linguagens da filosofia, da ciência e da  arte.”

Artavazd Pelechian é isso: cineasta e poeta do real. O seu cinema faz-se de diferentes camadas de som numa vertigem de imagens. O olhar de Pelechian captura o movimento do mundo.  Um olhar sobre a humanidade.


Ter 23 | "EL CIELO GIRA"
(106', Mercedes Alvarez, 2004, Espanha, leg em português)
Um pintor quase cego e os habitantes de Aldeasenor, uma pequena povoação quase em extinção. Ambos, o pintor e os últimos habitantes de Aldeasenor, partilham algo em comum: as coisas começam a desaparecer perante os seus olhos. A realizadora, Mercedes Alvarez, foi a última pessoa a nascer em Aldeasenor. Agora, regressa à sua terra natal. Aí, filma o tempo quase parado. Aclamado internacionalmente, teve prémios no Rotterdam Film Festival, Buenos Aires International Festival of Independent Cinema e no Festival de Paris-Cinéma du Réel, entre outros, EL CIELO GIRA deixa-nos em estado de espanto pelo tom ao mesmo simples e abruptamente poético com que filma a vertigem do tempo que passa, o tempo fora do tempo. E no entanto, o céu gira.


Ter 30 | "LIXO EXTRAORDINÁRIO"
(94', Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley, c/ Vik Muniz, 2010, Brasil|Reino Unido, leg em inglês)
LIXO EXTRARDINÁRIO, vencedor do prémio de melhor documentário no Festival de Berlim (2010), acompanha a incursão do artista plástico brasileiro Vik Muniz pela maior lixeira do mundo em céu aberto: o Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. Aí, ele fotografa os “catadores” de lixo, tomando-os como personagens. De lixo se trata também. E de devires, de metamorfoses, a partir do lixo e da vontade dos homens.  De excreções excursões se fazem os caminhos deste LIXO EXTRAORDINÁRIO - do lixo até à arte.