PROFONDO ROSSO | 22h entrada livre (leg. port.)


Profondo Rosso é o primeiro grande filme do cineasta italiano Dario Argento. Mais do que isso, é uma obra que concentra, em 126 minutos, todas as marcas registradas da carreira do realizador. Cenas de morte repletas de violência gráfica, trabalho de câmera detalhista e criativo, banda sonora que mistura jazz, rock progressivo e soturnas melodias infantis, traumas de infância, um assassino de luvas pretas e o uso abundante da cor vermelha: tudo isso marca presença em Profondo Rosso  (“Prelúdio para Matar”  em portugês) de maneira poderosa e estilizada. Trata-se de um dos filmes mais personalistas e interessantes de Argento.

Dario Argento realizou no cinema de horror, aquilo que os Ramones fizeram no rock’n’roll: aprimorar a mesma obra indefinidamente. "Profondo Rosso" foi o quarto filme de Dario Argento, e também o primeiro a exacerbar algumas das características citadas no parágrafo anterior, já rascunhadas nos primeiros trabalhos. E foi exatamente esse elemento exagerado, meio campy, que acabou por dar um contorno definitivo ao trabalho do realizador. A partir deste filme, Argento descobriu que não queria fazer filmes realistas. Queria desbundar, caminhar rumo ao excêntrico. Fez isso. E deu-se bem.

Em termos narrativos, Profondo Rosso é um giallo autêntico. O nome (que significa “amarelo”, em italiano) surgiu em meados dos anos 1960 com o objetivo de rotular um filão de filmes de suspense que se tornava muito popular na Itália. Via de regra, são thrillers protagonizados por assassinos, de identidade desconhecida, que travam verdadeiro jogos de gato e rato com possíveis vítimas, alçadas à categoria de detectives amadores para proteger a própria vida. O filme de Argento narra a investigação empreendida pelo pianista inglês Marcus Daly (David Hemmings) para encontrar o misterioso assassino de uma médium (Macha Méril), crime que ele presenciou e não conseguiu evitar.

Como em quase todos os filmes de Argento, o forte estilo autoral se sobrepõe à narrativa. Argento utiliza o recurso da câmera subjetiva com abundância, sempre a usando para ilustrar o olhar do assassino. Dessa forma, o diretor revela a presença do matador em determinados locais, agregando tensão à narrativa. As composições são não apenas rigorosas, mas extremamente criativas (observe a curta seqüência delirante, aparentemente – acredite, é só aparência – desconectada da narrativa, que mostra um assassinato, durante os créditos iniciais).

Outra impressão digital de Argento, que aqui bate ponto de forma especialmente grave, é a presença de seqüências de morte encharcadas de violência gráfica, em cenas filmadas com a pompa operística de uma orquestra. São poucos assassinatos, mas todos marcantes. A cor vermelho, que o próprio Argento já revelou ser de importância fundamental (ele afirma que sonha em vermelho), aparece em praticamente todas as tomadas. Argento ainda tem a chance de aproveitar cenários sensacionais nas locações em Roma, como a fonte gigantesca que fica em frente ao apartamento de Marcus Daly.

Por fim, Profondo Rosso também tem o maior defeito do cineasta italiano: a péssima direção de atores, que parecem sempre teatrais e histéricos em demasia. Se bem que, em filmes de atmosfera delirante como os de Argento, até isso se justifica. Profondo Rosso é grande programa para os viciados em cinema de horror personalista e inteligente.

Profondo Rosso / Deep Red (itália 1977, falado inglês, leg. port)