No limiar da década de 1960, quando os cinéfilos encontravam-se 
enlevados com a inauguração da Nouvelle Vague, surgiu o espirituoso “Uma
 Mulher é Uma Mulher” (1961), novidade do autor que concedera uma forma 
revolucionária ao conteúdo de um filme policial. O desinteresse do 
público francês evidenciou-se no fracasso de bilheteria; não obstante, o
 filme seria apreciado em muitos outros países. Por transcender a 
regularidade dos filmes classificados como cómicos, “Uma Mulher é Uma 
Mulher” teve seu devido reconhecimento no Festival de Berlim, 
consagrando-se em definitivo como sucesso internacional. 
CINÉMA, COMÉDIE, MUSICAL — 
essas são três das palavras que surgem em letras garrafais nos créditos 
iniciais. Logo após os primeiros vagidos da Nouvelle Vague, Jean-Luc 
Godard faz aquilo que interpretamos como uma homenagem aos musicais 
hollywoodianos; homenagem às avessas aos olhos do espectador mais 
atilado. 
O mundo extraordinário de Godard gira em torno da imagem, imagem cheia 
que vai de encontro com a vacuidade do cinema. Em “Uma Mulher é Uma 
Mulher”, além da atuação, Anna Karina posa para a câmera do tradicional 
modo estático como também em movimento e influencia, principalmente, 
Jean-Paul Belmondo.  A  atriz que não participou de 
“Acossado” por recusar a nudez exigida não abandona completamente o 
recato aqui, no papel de uma strip-teaser, o que talvez se 
explique como para Godard. Anna Karina é magnetismo. Na pele de Angela, não é difícil vê-la como a síntese da obsessão da Nouvelle Vague pelas mulheres.
Um filme bem humorado recheado de pormenores estéticos fiel ao estilo de Jean-Luc Godard.